Nascemos nus de concepções, quase como a folha em branco de Locke. Com o tempo, começamos a aprender sentidos, nomes e perspectivas. O objeto fedorento feito de madeira retorcida que víamos os mais velhos baforar com tanto gosto, agora chamamos de cachimbo, e as grandes e barulhentas caixas metálicas no seu vai e vem interminável, denominamos carros. Certas opiniões sobre certas coisas e muitas vezes, pessoas, que são ensinadas ou comentadas pelos com qual vivemos são assimiladas por nós, aprendemos medos. E com o tempo, o mundo vai tomando forma e tamanho, que vemos pelos olhos de outros
Todos nascemos assim, todos sem um propósito e consequentemente, sem um conforto existencial. Logo, é compreensível e natural que algumas mentes atormentadas procurem esse propósito em religiões ou crenças em geral baseadas no conceito fé, pois a fé não necessita de bases lógicas para existir, ter fé já qualifica a veracidade do fato no qual se crê para o crente, é a saída fácil
Outro exemplo, que abrange a grande maioria de todos os humanos, é a sociedade. Nela, e em nossas vidas cotidianas encontramos um propósito, ou ao menos, uma distração existencial. Todos seguem caminhos semelhantes, ocupam posições nessa sociedade e nela, e somente nela buscam a felicidade. Muitas vezes essa felicidade vem em forma de uma determinada função em algum órgão de hierarquia vertical, ou na possessão de muito dinheiro, e algumas vezes para os mais espertos ela vem em forma de uma família ou na presença de um ente querido.
Mas algumas vezes, alguns humanos mais azarados, não encontram o seu propósito em alguma função social permanente ou em um família ou em qualquer coisa dessa caixa, no campo de visão que a viseira social posta por nossos pais nos proporciona. Alguns se dão conta que a sociedade é á imagem de seu criador, um corpo sem propósito, e que tudo o que ela abrange foi criado e é sustentado por outros desses indivíduos, que assim como nós nasceram vazios de concepções ou crenças.
Quando se observa á natureza efêmera de tudo o que nos rodeia, quando se observa que os propósitos e concepções que dão forma ao nosso mundo são somente criações da mente humana, a busca por um conforto ou propósito existencial se torna bem difícil.
Eu acho o meu conforto no simples fato de estar vivo. Acho conforto, sendo mais amplo, na minha insignificância existencial e na falta de propósito com a qual me deparo. A minha insignificância e a minha falta de propósito me garantem a certeza de liberdade e de livre arbítrio, coisas as qual prezo quase em demasia. Posso me considerar um existencialista sartre-kierkegaard, pois minha ideologia parte da admissão de que a vida não segue uma lógica pré ordenada e que a existência não é inerentemente significativa, mas que o indivíduo deve escolher o seu propósito e assim viver sua vida de forma sincera e apaixonada
A certeza de que nada que faço ou farei é realmente importante, que toda a minha vida é apenas um em tantas que foram e serão, me dão conforto duradouro, que dura mais do que o conforto da estabilidade e segurança de uma vida comum